Património do Litoral Alentejano

A costa alentejana é uma região de beleza inigualável e ímpar, desde há muito tempo e por múltiplas razões, uma região privilegiada com as suas condições naturais, climatéricas e tranquilidade, bastante procuradas para quem deseja umas férias diferentes ou para quem quer um fim-de-semana fora do seu hábito.

De norte a sul, de Alcácer do Sal a Odemira, o Litoral Alentejano é uma região com património natural inconfundível, com as suas praias de perder a respiração e a vista, porém sem esquecer, a ruralidade da paisagem para o interior, o sangue alentejano encontra-se com a espuma do Oceano Atlântico. E juntando à paisagem os sabores e odores de uma gastronomia alentejana e dos saberes da cultura alentejana, que na soma destes pontos contribuindo para uma experiência única e inesquecível.

Para quem percorre a costa alentejana pelas suas regiões interiores e serranas, ou à beira mar, existem milhões de caminhos pelos quais se perdem mas se encontram enquanto exploram um património único, os rios Sado e Mira, as reservas naturais do Estuário do Sado, a Lagoa de Santo André, a Reserva Natural da Costa Vicentina, os monumentos milenares, que contam mil e uma histórias ou mesmo as planícies pintadas com múltiplas tonalidades com os seus montados de sobro ou pinhais costeiros.

O litoral é uma zona de extrema importância estratégica comercial e militar, e a costa alentejana não é qualquer exceção. Hoje em dia, podem ser vistos 7 fortificações, que protegiam locais estratégicos, desde tempos remotos, a povoações modernas, sempre com o objetivo de defender os bens, patrimónios, interesses e civilizações.

Desde Alcácer do Sal, passando por Grândola, Troia, Santiago do Cacém, Sines e Odemira, locais que requerem uma exploração mais aprofundada, desde o seu património natural ao património edificado e história.

Alcácer do Sal

Artefactos encontrados nesta região testemunham a presença humana há mais de 40 mil anos, porém apenas no período mesolítico é que surgem as primeiras manifestações da produção agrícola e de gado, havendo também troca de produtos como peças de cerâmica.

Na Idade do Ferro, esta região teve um grande desenvolvimento urbano, inclusive tendo uma moeda própria. Aquando a chegada dos Romanos, a povoação conhecida como Celta Bevipo, passou a designar-se Salacia Urbs Imperatoria, obtendo o estatuto de Cidade de Direito Latino. Mantendo a sua importância ao longo dos séculos, tanto pelo seu estatuto como pela sua produção de lã e sal.

Em 715 dá-se a ocupação árabe, durando cerca de 4 séculos, Alcácer do Sal torna-se capital da província de Al-Kassar, estando o rio Sado ocupado por navegadores orientais e norte-africanos, sendo um dos portos de grande importância para a Península Ibérica.

Património do Alentejo

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Por sua vez, o rio Sado é um dos focos mais importantes para o desenvolvimento de Alcácer do Sal, devido à navegabilidade e fertilidade, que dominou a cultura de trigo, cevada, montado, olivais e arrozais.

No alto das colinas alcacerenses, encontra-se o Castelo de Alcácer do Sal, mandado construir por califa almóada Ya’qub Al-Mansur, em 1191, aquando a reconquista muçulmana desta região, uma vez que em 1158, D. Afonso Henriques tomara Alcácer do Sal. Mais tarde, em 1217, esta região e a sua fortificação foram reconquistadas por D. Afonso II, doando-o à Ordem de Santiago de Espada.

No século XVI, Alcácer do Sal obteve uma grande impulso a nível comercial devido à produção do sal e a riqueza desta produção foi promovida para a construção de igrejas e palácios, sendo fundado o Convento Carmelita de Aracelli.

Com uma extensão de 23,160 hectares, a Reserva Natural do Estuário do Sado apresenta uma grande variedade biológica, nas suas áreas húmidas e regiões de terra firme. Uma reserva fértil e rica tanto a nível da fauna como da flora abrange um ecossistema com diversas espécies, desde sapais a uma variedade de aves, como a cegonha branca, flamingos-rosa, perna-longas, garças, aves de rapina, entre outros, também acompanhando por uma diversidade de mamíferos, como a lontra-europeia, raposas, gamos, texugos, saca-rabos, entre outros. Contudo, é uma zona bastante apelativa para o Homem, que desde cedo, alojou-se e desenvolveu atividades como a agricultura, pesca artesanal, salicultura, recolha de marisco e criação de gado.

Atualmente, contando com este património natural e as fortificações, Alcácer do Sal também apresenta, na Comporta a Adega da Herdade da Comporta e o Museu do Arroz, e em Torrão é possível encontrar o se Museu Etnográfico.

Grândola

Numa encruzilhada de planícies de pinheiros e da sua Serra, Grândola com o seu carácter alentejano, simpático e acolhedor, juntando o extenso areal de Melides a Tróia, que por si possui uma beleza única e diversidade rara.

Conforme vestígios encontrados, pensa-se que a ocupação humana remonta ao período do Bronze, em Melides e do Megalítico no Lousal. Enquanto, Tróia constitui-se na época Romana, como um dos maiores centros de salga de peixe. Em Grândola também foram encontradas termas e uma barragem que remontam à época Romana. Na época Medieval, esta encontrava-se integrada na Ordem de Santiago, porém apenas em 1544, obteve o foral por parte de D. João III, tornando-se independente de Alcácer do Sal.

Uma região cuja principal atividade era a agricultura e mais tarde, a atividade industrial, nomeadamente da cortiça e também a exploração mineral no Canal da Caveira, até ao final do século XIX.

Atualmente, a região de Troia teve um boom hoteleiro, em que foi construído o Resort de Tróia, que inclui o Troia Golf e o Casino de Troia. Contudo, ainda é possível visitar as suas ruínas Romanas, mantendo viva a memória da sua origem.

Já em Grândola, um museu a visitar é a Casa de Frayões Metello, ex-residência da nobreza, atualmente é o Museu e Património Cultural do Município de Grândola, acolhendo coleções museológicas, apresentações de exposições e serviço educativo.

Em Vale de Figueira, encontra-se o Dólmen da Pedra Branca, um monumento megalítico usado como necrópole no período do Neolítico Final, todos os seus sepultados estão acompanhados com artefactos como colares, pedras polidas e machados.

Santiago do Cacém

Na colina mais alta de Santiago do Cacém, o castelo encara o mar e o seu casario percorre a encosta acompanhado por vales até as ruínas de Miróbriga, um legado Romano sem igual. A cidade de Santiago do Cacém testemunha uma história realmente notável, desde a sua geografia, património natural e património edificado, que se juntam na planície alentejana e no Oceano Atlântico, que sempre se demonstrou favorável para o Homem.

Vestígios de escavações no Castelo Velho, nas ruínas Romanas de Miróbriga provaram que esta região foi habitada desde o período pré-histórico. Mais tarde, a povoação Celta ergueu um fortificado, no século III e II a.C. Contudo, foi no período Romano, que este povoado conheceu uma vida diferente, tornando-se a principal cidade Romana da costa ocidental a sul do Tejo, em que possui um Fórum com o seu templo, termas e um hipódromo romano, único em Portugal.

As ruínas de Miróbriga foram classificadas como Imóvel de Interesse Público em 1940, pertencendo ao Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico desde 1982. Estas ruínas foram descobertas pelo humanista André de Resende no século XVI, que as referiu como povoação Merobrica e o Bispo de Beja, D. Frei Manuel do Cenáculo promoveu as escavações no século XIX. Nos anos 40 do século XX, Dr. João da Cruz e Silva, investigador de Santiago do Cacém que iniciou pesquisas sérios e sistemáticos. Desde do ano de 1959 até à década de 70, D. Fernando de Almeida realiza diversas campanhas de escavações em Miróbriga, na qual defendeu na sua tese que esta seria um santuário de apoios aos seus peregrinos. Atualmente, dispõe de um Centro de Acolhimento e Interpretação, erguido pelo IPPAR, defendendo a filosofia de intervenção dos monumentos arqueológicos e ao criar infraestruturas, melhorou a sua explicação e interpretação.

Após o declínio de Miróbriga, em 712 os Mouros conquistaram Santiago de Cacém, construindo o castelo na colina, que se obteve o estatuto de Monumento Nacional. Permanecendo ocupada até ao século XII, após diversas batalhas, conquista e reconquista, até 1217 em que D. Afonso II confirmou a sua doação à Ordem dos Espatários.

Em 1512, Santiago do Cacém tornou-se sede de concelho, recebendo o foral por D. Manuel I. Já em 1759, passou para a Coroa e em 1832 passou a pertencer ao Estado.

Existem diversos locais a visitar, nomeadamente em Santiago do Cacém, o Moinho de Vento da Quintinha, o Museu do Trabalhador Rural de Abela, o Museu Municipal de Santiago do Cacém e o Tesouro da Colegiada de Santiago. Em Vila Nova de Santo André, encontra-se o Badoca Safari Park.

Sines

O povoado de Sines remonta ao Neolítico, em que a presença humana desenvolveu-se perto das Ribeiras de Morgável, Junqueira e Berlogão, visto que é uma zona bastante rica em peixe e marisco. Os Púnicos ou Cartagineses começaram a usar a Ilha do Pessegueiro como uma zona portuária e muito provavelmente, um povoado Celta, denominado Cinetos tenham vivido nesta região, no qual o nome atual tenha derivado. Uma outra explicação para o nome de Sines provém do étimo latino para baía “sinus”. Séculos mais tarde, com os Romanos, esta região tornou-se o porto da cidade de Miróbriga.

Com a ocupação árabe, o seu legado passa pelas novas tecnologias agrícolas e industriais. Em 1217, no reinado de D. Afonso III, Sines foi conquistada pela Ordem de Santiago de Espada, sendo doada a esta ordem como pagamento pelos seus serviços no combate contra os mouros. Em 1362, recebe a carta régia e ainda no século XXV é construída a fortaleza. O Castelo de Sines é um dos raros exemplos de um castelo medieval na linha litoral, com um dos melhores miradouros, este foi construído na primeira metade do século XV, acolhendo o seu povo aquando os ataques dos corsários, estando assim, ligado à fundação do concelho, sendo a sua construção exigida por Dom Pedro I para que fosse entregue o foral à povoação e subsequentemente entregue a sua administração. Em 1517, foi doado à Ordem de Santiago. Este castelo encontra-se numa falésia, na quando se desconfia sucessivas ocupações desde o Paleolítico, vestígios de cantarias romanas e visigóticas, demonstra o reaproveitamento de materiais pertencentes a uma basílica visigótica do século VII. Uma das personagens mais emblemáticas da história de Portugal, Vasco da Gama nasceu na Torre de Menagem deste castelo, enquanto seu pai tinha fico alcaide da vila de Sines.

Relativamente ao Forte do Revelim, esta fortificação encontra-se no extremo oeste de Sines e tinha como função a defesa da vila, conjuntamente com o castelo, contra os corsários e piratas que invadiam a costa de Sines. Esta fortificação foi construída no século XVII, sob a projeção do engenheiro do rei, Massai.

A Ilha do Pessegueiro terá sido povoada primeiramente por Cartagineses, antes da II Guerra Púnica, entre 218 e 202 a.C., sendo mais tarde repovoada por Romanos, que um centro produtor para preparados de peixe, que atualmente encontram-se vestígios de tanques de salga. Durante séculos, esta ilha agiu como refúgio a piratas, sendo um fator para a construção de uma fortificação, em 1588. Esta construção foi interrompida, para concentrar esforços na construção do Forte de S. Clemente, em Vila Nova de Mil Fontes. Em 1603, são recomeçadas as construções do forte na ilha, por ordem de D. Filipe III, no qual foi incluído um porto marítimo. Apenas entre os anos de 1661 e 1690, foi concluído o “Forte de Fora”.

A vila piscatória, de Sines, com a sua baía de tirar a respiração a quem a visita, desenvolveu-se a partir dos anos 70, com a instalação do porto de águas profundas e com a evolução das indústrias subsequentes. Hoje em dia, Sines é como uma varanda com uma bela vista para a imensa massa oceânica e sendo um observatório para a atividade de navios de grande porte e dos pescadores e marinheiros.

Sines é um dos portos que oferece condições naturais únicas de águas profundas, que permitem a acostagem de navios de grande porte, das Indústrias pesadas. Sines tornou-se um elo de ligação entre Portugal e o resto do Mundo.

Em Sines, ainda é possível visitar o seu Museu e o Tesouro da Igreja de Nossa Senhora das Salas.

Odemira

Não se conhece totalmente a sua origem, mas Odemira sempre foi povoada, entre romanos e árabes, que consigo deixaram costumes, histórias e formas de viver. A sua reconquista foi já bastante tardia, realizada pelos frades guerreiros da Ordem de Santiago, permanecendo como território nacional desde 1238. Do pouco que resta do castelo e da fortificação envolvente e visível, hoje em dia, assenta a Biblioteca Municipal de Odemira e as suas muralhas articulam-se de forma a uma noção da expansão urbanística da vila. O castelo medieval foi tomado pelos mouros em 1166, no local de oppidum romano. Após a sua reconquista portuguesa, a vila recebeu o foral de D. Afonso III, no ano de 1256 e nove anos depois iniciam-se as obras de reconstrução. O Mestre da Ordem de Santiago, D. Paio Peres Correia, em 1319, doou o castelo de Odemira ao Bispo do Porto, D. Pedro Salvadores. A mando de D. Dinis foi realizada a reedificação e a construção de uma nova cerca. Em 1510, Odemira recebeu novamente o foral, por D. Manuel. Já, no reinado de D. Duarte, D. Sancho de Noronha e D. Mécia de Sousa tornaram-se Condes de Odemira. Mais tarde, foi doado ao 1º Duque de Cadaval, Nuno Álvares Pereira de Melo. Relativamente ao Forte de São Clemente, na Vila Nova de Milfontes, erguido entre 1599 e 1602, durante um período de fortes ataques de corsários e piratas, portanto o seu objetivo era proteger a costa alentejana, especialmente na entrada do rio Mira. Hoje em dia o muro que rodeia o fosse do castelo, juntamente com os miradouros do Barbacã, são os únicos monumentos que restam da antiga fortificação exterior. Em 1939, passou a servir hotel, como Turismo de Habitação. Em 1978, foi classificado como Imóvel de Interesse Público.

Odemira possui uma linha costeira de 55 quilómetros que se encontra integrada no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Uma beleza excecional nas suas terras de Vila Nova de Milfontes e Zambujeira do Mar.