Matosinhos

Matosinhos apresenta-se de forma única e real, mantendo os costumes e tradições, a sua gente hospitaleira recebe quem os visita sempre com um sorri e pronta para explicar e conta as histórias da sua cidade.

Casa de Santiago

Erguida por ordem de João Santiago de Carvalho e Sousa, como sua residência, na última década do século XIX, esta era conhecida como “Quinta de Villa Franca”. Esta fora projetada por Nicola Bigaglia, num estilo arquitetónico eclético e revivalista, que integra elementos neo-medievais num tom renascentista. Esta foi adquirida pela Câmara Municipal de Matosinhos no ano de 1968, recuperando e adaptando-a para ter a função de museu, dirigida pelo arquiteto Fernando Távora. No seu segundo piso encontra-se uma exposição de pintura e escultura, que destaca a coleção de Arte da Câmara Municipal de Matosinhos de António Carneiro (1872-1930), de Agostinho Salgado (1905-1967) e de Augusto Gomes (1910-1976). Estas três figuras estão relacionadas a Matosinhos e Leça, com três leituras distintas do mar, terra e gentes. Este está aberto todos os dias das 10h00 às 18h00 horas, encerrando à segunda-feira.

Forte de Nossa Senhora das Neves

Depois da restauração da independência, no ano de 1640, surge a necessidade de defender melhor a costa marítima contra ataques espanhóis e corsários, sendo edificadas diversas fortalezas, nomeadamente em Leça da Palmeira. Aqui ergue-se a fortaleza de Nossa Senhora das Neves, que em conjunto com os fortes de S. João da Foz e de S. Francisco Xavier (Castelo do Queijo), defendiam a cidade do Porto. Este forte é de tipo abaluartado com planta de estrela de quatro pontas, protegidas por muralhas inclinadas e guaritas, que se iniciou em 1651, visando a substituição de uma fortificação mais antiga. Em 1844, esta perdeu a sua função militar e instalou-se a Alfândega do Porto e em 1899 passou a ser a secretaria do Porto de Leixões, atualmente é capitania daquele porto. Este está classificado como Imóvel de Interesse Público em 1961.

Castro do Monte Castêlo

Próximo da foz do rio Leça, no antigo estuário, e atual Porto de Leixões, ergue-se o Monte Castêlo. Apesar de não estar numa elevação mais próxima da costa, as suas características estratégicas juntamente com as condições planálticas, fizeram deste local o melhor para a fixação de comunidades. A estação arqueológica remonta à época da Idade do Ferro/Romanização, sendo uma das mais importantes do norte de Portugal. Aproveitando também o estuário do Leça, que é um verdadeiro porto de abrigo natural e navegável, até ao sopé do Monte Castêlo, conforme a abundância de materiais exógenos nesta zona. Grandes quantidades de ânforas, conferem a ideia que a partir do século II a.C., este castro mantinha um contacto comercial regular, com o sul da Península Ibérica e o mundo mediterrânico. Já no século V, este castro era o principal entreposto comercial entre África e Guifões, posterior a este século, Monte Castêlo fora abandonado. Já nos séculos IX e X, este foi referenciado em documentos, sob o domínio de Castelo, em que aqui foi construído uma fortificação em madeira. Ainda existem indícios que fora ocupado também na Alta Idade Média, devido a fragmentos de cerâmicas cinzentas. Este foi classificado como Monumento de Interesse Público em 1971 e em 1991, foi definida a sua área de proteção.

Homem da Maça

No alto do Monte de São Brás, em Santa Cruz do Bispo, encontra-se uma escultura incompleta, com grandes dimensões, sendo reconhecida como Homem da Maça, uma representação de um antigo guerreiro, um herói mítico. Esta obra encontra-se acompanhada por uma escultura zoomórfica, que representa um leão com traços fantásticos. A sua interpretação do Homem da Maça gera alguma polémica, visto que alguns autores consideram que é um exemplar da época romana, outros afirmam que pertencem a conjuntos escultórios do século XVI, que decorava a “Quinta dos Bispos”. Já a escultura zoomórfica é uma obra medieval, semelhante às bases dos sarcófagos medievais, que ainda se observam na igreja do mosteiro de Leça do Balio. Era tradição durante a romaria de São Brás, estes são abraçados pelos pescoços, colocando flores, para um rápido casamento, já os casais tocam para terem filhos varões, e como pagamento da promessa vertiam vinho na cabeça da estátua.

Igreja do Bom Jesus de Matosinhos

O desaparecido Mosteiro de Bouças ostentava a imagem do Bom Jesus de Bouças, que devido à grande degradação do mosteiro, essa imagem foi transferida para uma nova igreja que foi construída em Matosinhos. A construção começou em 1542, por iniciativa da Universidade de Coimbra, a quem D. João III tinha concedido o padroado de Matosinhos, tendo sido contratado João de Ruão como projetista da obra, porém foi terminada por Tomé Velho. No século XVIII, a devoção do Senhor de Bouças aumentou com a demanda das terras do Brasil, que permitiu a ampliação da igreja, a cargo de Nicolau Nasoni, obtendo o traço atual, em que se destaca as duas torres sineiras, o frontão quebrado, a porta principal decorada com medalhão, no qual se insere uma concha de vieira e os dois nichos laterais com as estátuas de S. Pedro e S. Paulo. O seu interior é dividido em três naves, sendo destacado o altar-mor de talha dourada, que contém a imagem de Cristo crucificado, atribuída ao século XII.

Mosteiro de Leça do Balio

Em Recarei, perto do rio Leça, este ergue-se desde do século X, que evocava S. Salvador do Mundo, acolhendo apenas membros da família de Trutesendo Osoredes e sua mulher Unisco Mendes, uma família da antiga nobreza. Em 1021, Unisco Mendes e o seu filho Osoredo doaram este mosteiro a Tudeildo, abade do mosteiro moçárabe da Vacariça, junto a Coimbra. Esta doação marcou um período importante no desenvolvimento de Leça, sobretudo aquando Tudeildo se refugia das incursões muçulmanas, neste local em 1026. Uma estrutura gótica do monumento, que foi remodelada e ampliada no século XIV, por iniciativa do Balio D. Frei Estevão Vasques de Pimentel. Apenas do mosteiro resta a igreja cruciforme, acompanhada por uma torre quadrangular com balcões com matacães e a meia altura e no topo surgem seteira, que conferem à igreja uma fortaleza militar. No seu interior, encontra-se a campa de Frei Estevão Vasques, uma placa de bronze, com vários motivos decorativos e com o epitáfio do defunto em caracteres leoneses. Esta foi classificada como Monumento Nacional em 1910.

Cavaleiros do Hospital e a Comenda de Leça

No século XII, D. Teresa doou o Mosteiro de Leça do Balio à ordem militar-religiosa dos Cavaleiros Hospitalários, que fizeram deste a sua primeira casa-mãe em terreno português. No ano de 1140, D. Afonso Henriques realiza obras de ampliação, concedendo a jurisdição sobre território alargado que abrangia as paróquias de Leça, Custóias, Barreiros, Gueifães e S. Mamede, através da Carta de Couto. A Ordem do Hospital foi fundada no contexto do espírito de Cruzada e de Guerra Santa, sendo uma organização internacional dependente do Papa, que tinha como missão, a proteção e prestação de assistência aos peregrinos, tal como a participação nas incursões militares contra os muçulmanos. Por este mosteiro passaram reis e rainhas, como Afonso Henriques e Sancho I, albergando a rainha Santa Mafalda assim como o condestável Nuno Álvares Pereira, celebrando o casamento entre o rei Fernando I e Leonor Teles que aqui se celebrou em 1372. O mosteiro sempre tivera um papel importante, tanto pela sua posição estratégica, como para apoiar os peregrinos que desejavam visitar o túmulo do apóstolo Santiago em Compostela. Em 1834 e com a abolição do Baliado de Leça, devido à extinção das ordens religiosas, este mosteiro, exceto a igreja, foi abandonado e vendido em hasta pública. No século XX, ficou em posse do Engenheiro Ezequiel de Campos, que permitiu obras profundas a nível de restauro e remodelação.

Necrópole Medieval de Montedouro

Em Perafita, esta necrópole é composta por cinco sepulturas não-antropomórficas, escavadas na rocha granítica, sendo oriundas da Alta Idade Média, entre o século VII e XI. Nesta destaca-se a sepultura que se encontra no alto de um outeiro em Montedouro, com uma forma ovalada e com rebordo. Devido à extração da pedra neste local, para o Porto de Leixões, algumas sepulturas foram destruídas. Também foram recolhidos vestígios que apresentam ocupação nesta área, durante a época romana, outros materiais identificam a presença de cerâmicas pré-históricas de fabrico manual, da Idade do Bronze. Esta necrópole foi classificada como Monumento de Interesse Municipal.

Obelisco da Praia da Memória

Na praia junto a Arnosa do Pampelido, a 8 de julho de 1832, foi local que alterou o curso da história e marca o início do fim do absolutismo em Portugal – uma esquadra com 7500 homens a comando de D. Pedro IV, desembarca nesta praia, com o objetivo de instaurar um regime moderno e liberal em Portugal. E neste local, o exército absolutista foi surpreendido, visto que aguardava um ataque em Lisboa, fazendo com que a linha nortenha tivesse ficado desguarnecida. Assim o “Exército Libertador” tomou rumo ao Porto e resistiu heroicamente durante um ano no “Cerco do Porto”. De forma a honrar tal ato, foi erguido um obelisco por iniciativa de António José de Ávila e subscrição pública. Durante 24 anos este obelisco foi se erguendo e em 1880, foi classificado como Monumento Nacional. No ano de 2001, foi restaurado por iniciativa da Câmara Municipal de Matosinhos.

Pontes Históricas

O concelho de Matosinhos é atravessado pelo rio Leça, em toda a sua extensão, sendo uma via de comunicação entre o Porto aos principais centros do Noroeste Peninsular, nomeadamente a Braga, Tuy e Santiago de Compostela, assim desde a época romana foram construídas pontes, para facilitarem a circulação de pessoas e mercadorias:

Ponte dos Ronfes – com três arcos de volta perfeita, esta integrava a uma via de circulação regional, conhecida como Karraria Antiqua, sendo uma estrada secundária da época romana. Esta vinha desde Cedofeita, passando pelo Monte dos Burgos, tomando rumo a Gondivai e Araújo, para a região da Maia.

Ponte de D. Goimil – de cavalete acompanhada com um arco ogival, em alvenaria de granito, em que a sua tipologia construtiva é tipicamente da Idade Média. Por aqui passava uma estrada romana, que se iniciava junto ao rio Douro, passando pelo Couto entre Lordelo e Cedofeita, atravessando o rio Leça, dirigindo-se por Pedras Rubras, Aveleda, Modivas e Vairão até ao estuário do rio Ave. É um exemplar de arquitetura civil medieval classificado como Imóvel de Interesse Público.

Ponte de Guifões – atualmente desaparecida, esta encontrava-se no sopé do Castro de Guifões, perto do estuário do rio Leça. Em alvenaria de granito regular, era composta por três arcos de volta perfeita, tipicamente da Idade Média. Este faria ligação ao estuário do Ave e a Vila do Conde, passando pela villa romana de Lavra. Em 1979, esta ponte ruiu numa cheia do rio Leça.

Ponte do Carro – de cavalete com arco de volta perfeita, esta foi construída em alvenaria de granito irregular, com uma construção típica da Idade Média. Este exemplo arquitetura civil pública medieval, sendo classificado como Imóvel de Interesse Público.

Ponte da Pedra – na estrada romana, que interligava a cidade de Olisipo – Lisboa, à capital da região da Callaecia a cidade de Bracara Augusta – Brag, e passando por Cale – Porto, esta ponte remonta ao século II d.C., com um tabuleiro plano com um arco de volta perfeita. Ao longo dos séculos foi sofrendo alterações, porém existem várias “pedras almofadadas”, típicas da arquitetura romana.

Quinta da Conceição

No atual parque público e municipal de Matosinhos, que tem origem em 1481, na instalação do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Ordem de S. Francisco. Décadas mais tarde, devido à natureza agreste do sítio, foi transferido o cenóbio para um local mais ameno, passando para a antiga “Quinta da Granja”. Deste convento pouco resta e foi vendido em hasta pública, após a extinção das ordens religiosas. Hoje em dia, é visível o antigo claustro, alguns chafarizes monumentais e a capela de S. Francisco, em que alberga a sepultura de Frei João da Póvoa, antigo confessor do rei D. João II e principal impulsionador da construção do novo convento. No século XX, a Quinta da Conceição entra na posse da Administração dos Portos de Douro e Leixões, visando a construção da doca nº2 do seu porto. No ano de 1956, a restante propriedade é arrendada pela Comissão de Turismo da Câmara Municipal de Matosinhos, para a criação do parque da vila, tendo sofrido ao longo das décadas melhoramentos a cargo do arquiteto Fernando Távora e em destaque está o campo de ténis e a piscina do autor Arquiteto Siza Vieira.

Quinta de Santa Cruz do Bispo

Criada entre os anos de 1552 e 1572, pelo Bispo do Porto D. Rodrigo Pinheiro, este visava a criação de um local de repouso, diversão e de recreio para si e para os seus sucessores. Entre, o bosque, ramadas, múltiplas fontes, cascatas, ermidas, capelinhas e elementos escultóricos mandados erigir por ele, a magnífica casa, que foi o sucesso do seu projeto. Neste local, também encontram o seu repouso, grandes homens de letras e artes dos seus tempos. Eis alguns exemplos: D. Rodrigo da Cunha, Manuel Faria e Sousa, frei Bartolomeu dos Mártires ou frei Luís de Sousa. Durante a criação desta quinta, o arquiteto italiano Nicolau Nasoni fica responsável por alguns elementos arquitetónicos, nomeadamente entrada barroca voltada para o Largo da Igreja, tendo sido classificada como Imóvel de Interesse Público, em 1977.

Senhor do Padrão

Do século XVIII, este também é conhecido como “Senhor do Espinheiro” ou “Senhor da Areia”, erguendo-se no local que reza a lenda, aparece a imagem do Bom Jesus de Bouças, mais tarde conhecida por Senhor de Matosinhos. Este monumento de forte impacto visual, encontrava isolado no meio do areal da “Praia do Espinheiro” sendo visível a alguns quilómetros de distância, e até ao século XX, essa distância encurtou. Esta devoção religiosa dos pescadores de Matosinhos, reúne no dia 1 de novembro milhares que fazem seu louvor. Este foi classificado como Monumento Nacional.

Tanques romanos de Angeiras e Villa do Fontão

Nas areias da praia de Angeiras, está uma das mais importantes estações arqueológicas de época romana. Um exemplar da arquitetura industrial romana que conta com um conjunto de cetárias da época do Baixo Império Romano, sendo único na região norte. Este conta com seis conjuntos de tanques, de formato retangular e trapezoidal escavados no afloramento rochoso e dispersos ao longo da praia de Angeiras, que tinham como objetivo a salga de peixe ou à produção de outros tipos de conserva de peixe muito apreciado na época romana como o garum, uma pasta resultante da maceração de várias espécies de peixe e moluscos com vinho, azeite e outros produtos. Entre as traseiras da igreja paroquial de Lavra e a praia, estão os restos de uma estação arqueológica, uma antiga villa romana. Os seus vestígios encontram-se Museu de Etnologia do Porto e outros, Museu Paroquial Padre Ramos. Este local também se torna bastante importante no suévico-visigótico, devido à fundação do mosteiro em Lavra. Contudo, o povoamento deste local advém do período das primeiras comunidades pré-históricas, que deixaram aqui seus vestígios, monumentos megalíticos, no lugar de Antela, que conforme o estudo desses remontam a 2500 a 1500 a.C. Os tanques de salga da praia de Angeiras foram classificados como Monumento Nacional.