Aldeias Históricas
A história de uma cidade, de um País, de uma nação repousam nas lendas e nos contos, nos livros e nos fados que as gentes cantam. A história de Portugal é complexa e repleta de momentos gloriosos e outros mais dramáticos, sendo que cada pessoa e cada perspetiva dão um outro lamiré aos contos.
Assim, são apresentadas algumas das aldeias históricas, onde momentos importantes foram construídos para a história de Portugal, para o que somos atualmente.
Almeida
Associada a momentos agitados na história de Portugal, entre guerras e tentativas de soberania sobre o território, o passado militar aqui presente é o refletido pelas robustas alvenarias de granito que formam uma das mais interessantes fortalezas abaluartadas de Portugal. Pensa-se que a sua origem vem da fixação humana durante a Época Romana, no Enxido de Sarça, a um quilómetro da sua posição atual, sendo aqui encontrados diversos vestígios.
Na reconquista cristã, no ano de 1039, Fernando Magno conquistou Almeida, porém em 1701 voltou para mãos dos mouros. Após um século, D. Sancho I reconquistou uma vez mais e reconstruiu-a, de modo a ampliar as suas muralhas, que continuavam a ser alvo de ataques, promovendo o seu despovoamento. No ano de 1190, D. Paio Guterres, neto de Egas Moniz, finalmente tomou Almeida para o poder nacional.
Contudo, continuando a ser centro de disputa, Almeida apenas passou para a jurisdição portuguesa, com o Tratado de Alcanizes, assinado em 1297, estipulando a fronteira até as terras de Riba Côa, sendo erguidos os pelos castelos de Sabugal, Alfaiates, Castelo Rodrigo, Vilar Maior, Castelo Bom, Almeida e Castelo Melhor.
Já em 1372, D. Fernando ordena a reconstrução do seu castelo e ampliação das muralhas, e neste mesmo ano Henrique de Castela, casado com D. Isabel, filha ilegítima de D. Fernando, promove a invasão de Portugal, obrigando a D. Fernando a realizar um acordo, cedendo por três anos algumas terras, nomeadamente Almeida.
Na crise da sucessão, que decorreu entre 1383 a 1385, Almeida ficou ao lado de Castelo, até ser reconquistada por D. João I, em 1386. Anos mais tarde, as terras com o Alcaide de Almeida foram trocadas por D. João I, passando para o Rei.
Já no reinado dos Filipes de Espanha, as fortalezas que se encontravam na fronteira foram ficando em ruínas por decisão política, visando a eliminação dos pontos de resistência nos confrontos entre Castela e Portugal.
Com a Restauração da Independência, em 1640, foram iniciadas obras de fortificação, sendo as artes militares mantêm o seu traçado, até aos dias de hoje. Nesta época, Almeida foi considerada como a verdadeira chave de segurança para a Província da Beira, visto que nunca fora tomada. Já a 2 de julho 1663, aqui decorreu uma batalha de tom decisivo para a consolidação da Restauração, com uma vitória portuguesa, um dia celebrado aqui.
Em 1736, foi iniciada a construção da Praça Forte de Almeida, traçada por D. João V e terminada no reinado de D. Maria I, que foi mais tarde considerada a praça militar mais importante do reino. Contudo, novamente perdida, na Guerra dos Sete Anos, regressou apenas em 1763 para território nacional.
Já durante as invasões francesas, Almeida sofreu danos com a explosão do seu castelo, durante o cerco que Massena fez à fortaleza, sendo os militares portugueses derrotados. Passados treze anos, obras de restauro foram iniciadas.
Nas lutas liberais dos anos oitocentos, Almeida continuou envolvida, tomando partido por D. Miguel. Em 1844, revoltosos de Torres Vedras apelaram ao apoio de Almeida, mas sem sucesso, que cercando-a, terminou em lutas de artilharia pesada, danificando as muralhas. Apenas em 1853 é que sofreram com obras de restauração.
Por fim, no ano de 1927, o último Esquadrão de Cavalaria saiu de Almeida, fazendo com que esta perdesse a atividades militar, a sua única razão de existência.
Piódão
As suas casas de xisto, variando nas tonalidades de castanho que refletem os dourados do sol, enquanto a igreja se destaca no meio do casario pelo seu branco, envolvendo-se pelas montanhas e vegetação impressionante. Reza a lenda que se refugiou um dos algozes de Dona Inês de Castro, na tentativa de fugir à ira do seu rei D. Pedro, e esta é contada no Núcleo Museológico, que também retrata a vida das gentes da aldeia.
Belmonte
Uma das vilas mais antigas de Portugal e internacionalmente conhecida, Belmonte encontra-se no Monte da Esperança, cuja fortaleza envolvida por um morro rochoso foi erguido nos finais do século XII. Esta fortificação, juntamente com as de Sortelha e Vila de Touro tomaram as suas posições até a assinatura do Tratado de Alcanices, em 1297. Tendo sido desenvolvida assim a linha defensiva do Alto Côa, mantendo em retaguarda uma muralha natural da Serra da Estrela e Vale do Zêzere. Durante as guerras contra leoneses e castelhanos, o castelo desta vila obteve sempre melhorias, de modo a proteger território nacional.
Lendária e homenageada foi lealdade e bravura da família dos Cabrais, que resultaram na transformação do castelo numa Residência Senhorial Fortificada, local em que Pedro Álvares Cabral terá vivido os seus primeiros anos de vida.
No decorrer dos séculos, uma comunidade judaica desenvolve-se nesta vila, erguendo uma sinagoga, que apenas desta resta uma inscrição de 1296, e devido à expulsão dos judeus de Espanha pelos reis Católicos, esta comunidade em território nacional foi aumentando, porém D. Manuel I decreta a conversão forçada destes ao catolicismo e uma série de perseguições foram realizadas. Contudo, esta comunidade cripto-judaica foi sobrevivendo e mantendo os seus rituais e tradições. No ano de 1989 foi criada a comunidade judaica de Belmonte e a sua sinagoga foi inaugurada em 1997, sendo uma das poucas comunidades com Rabi, nos dias de hoje.
Castelo Mendo
Numa zona fronteiriça, Castelo Mendo está fortemente relacionada com a vocação militar de defesa e consolidação do domínio português, tendo obtido a estrutura urbana do aglomerada dos primeiros tempos da Monarquia.
Acredita-se que esta terá sido um castro neolítico, em que os romanos albergaram um oppidum envolvido por três muralhas, tendo uma importância militar e administrativa, aqui também passavam as vias romanas que interligavam Almeida e Guarda.
Devido a diversas invasões, esta caiu em ruínas, até D. Sancho I mandar a sua total reedificação e em 1186 concedeu o foral e já D. Sancho II ampliou as suas muralhas, oferecendo um novo foral em 1239. Já em 1285, D. Dinis remodelou o castelo e uma vez mais a cerca das muralhas foram ampliadas e em 1281 deu a Carta de Feira, sendo a primeira feira nacional aqui criada. E em 1295, D. Dinis concedeu um novo foral, incrementando os privilégios e nomeando Alcaide D. Mendo Mendes.
A fortificação de Castelo Mendo obteve um papel importante na época medieval, numa linha defensiva com Castela, e durante as invasões francesas, no século XIX. Em 1782, D. Maria I ordena a construção da primeira escola e até 1855, este foi sede de concelho, passando depois para o Sabugal e em 1870, Castelo Mendo juntou-se ao concelho de Almeida.
Linhares da Beira
A primeira povoação aqui erguida remonta a 580-500 a.C., pelos Túrdulos, que se encontrava na antiga Bética (Andaluzia atual), sendo depois conquistada pelos Romanos, que durante a conquista da Península Ibérica, foi aqui desenvolvida uma estrada romana que interligava Emerda (Mérida, Espanha) a Braccara Augusta (Braga). Ainda existente, a ruína de um fórum romano, uma construção granítica é um exemplar da ocupação romana. Com a vinda dos Bárbaros à Península, Linhares da Beira iniciou o seu processo de cristianização, tornando-se sede da Diocese. Durante as invasões muçulmanas, o clima de insegurança e de stress caíram sobre as comunidades ali presentes, enclausurando-se, refugiando-se na agrícola e a Diocese passou a sua sede para Coimbra.
Em 900, Afonso Magno de Leão recuperou as terras até Coimbra, obtendo Linhares a sua paz cristã, antes da total fundação da nacionalidade portuguesa. Passados mais de dois séculos, em 1169, D. Afonso conquistou Linhares, integrando-a na linha defensiva, fazendo então parte de Trancoso e Celorico da Beira. Porém, a instabilidade manteve-se e em 1198, Linhares foi invadida por castelhanos e leoneses.
Crê-se que aqui existiu uma colónia de judeus, sabendo que os seus nomes encontra-se nos processos da Inquisição, a judiaria encontra-se próxima do adro da Igreja, na parte norte da povoação, sendo um dos seus símbolos mais característicos são as cruzes apostas nos ombrais das portas, datas com referência à construção das casas, entre outros. Em 1842, o concelho foi extinto, passando a ser uma freguesia do concelho de Celorico da Beira.
Castelo Rodrigo
Vestígios afirma que a presença humana neste território remontam ao Paleolítico. Porém os maiores testemunhos são os da ocupação romana, contando com lápides epigrafadas e dezassete estações arqueológicas, sendo restos de villae romanas. Durante o domínio muçulmano, um momento que marcou mais este território, ainda existem vestígios na cisterna e no interior do castelo.
Referências que remontam à época da Reconquista, apresentam que os reis de Leão tinha repovoada este local, atribuindo o título de vila e Afonso IX de Leão elevou a concelho. No ano de 1170, a conquista por Afonso Henriques foi feita aos mouros, porém, apenas em 1209, com D. Sancho I, Castelo Rodrigo passou totalmente para mãos portuguesas.
A sua fortificação tem traços antigos que apenas com o tratado de Alcanizes, é que obteve a linha defensiva que atualmente é reconhecida. Em 1296, D. Dinis aprova o seu repovoamento e reconstrução do castelo, que apesar das guerras e desabamentos consecutivos, as suas muralhas foram constantemente foram reconstruídas.
Na crise espanhola, Castelo Rodrigo tomou partido de D. Beatriz e de D. João de Castela, fazendo com que D. João I, o Mestre de Aviz, castigasse a vila, ordenando a que o escudo das armas reais fosse invertido. Uma vez mais esta vila ficou despovoada e caiu em ruínas. Em 1508, D. Manuel mandou a sua repovoação, restaurando o castelo e concedendo o foral.
Castelo Rodrigo foi um ponto de passagem dos peregrinos que realizavam a sua caminhada a Santiago de Compostela, ficando acolhidos e cuidados por uma confraria de frades hospitaleiros.
Castelo Novo
Na Serra da Gardunha, este encontra-se num anfiteatro natural, em que os tons de verde e cinza estão sempre numa batalha de contrastes, incrementando o misticismo e transcendência. Com mais de 800 anos de história, aqui apelam à herança templária que defenderam as suas muralhas. Castelo Novo é um território que retrata uma mistura de experiências e fortes emoções, entre a antiguidade templária com as novas tradições e novos visitantes.
Idanha-a-Velha
Documentada como cidade romana Civitas Aegitidanorum, esta é uma paragem obrigatória dos roteiros arqueológicos de Portugal. Outras povoações, Visigodos e árabes, guerreiros medievais, templários, todos deixaram as suas marcas, nomeadamente a Catedral visigótica, proveniente de um templo paleocristão, com uma magnitude que continua a encantar, atualmente acolhe um dos conjuntos epigráficos mais importantes da permanência romana na Península; as muralhas e torre de menagem tem trechos romanos, construídos na época medieval, que visavam a proteção do povoado; a porta e ponte romana do Pônsul; pelourinho do século XVI; a Capela de S. Dâmaso do século XVIII; o Museu Egitaniense que é acolhido entre a Catedral e a Capela de S. Dâmaso, são exemplos de um património que merecem uma visita detalhada.
Monsanto
No ano de 1938, recebe o título de “Aldeia mais portuguesa de Portugal”, ostentando um castelo medieval, que se encontra parcialmente destruído, devido a uma explosão acidental do paiol de munições. No século XIX, apenas restavam duas torres, a do Peão e a de Menagem e as ruínas da Capela românica de São Miguel, do século XII. Monsanto também é fortemente reconhecida pelos seus adufes e marafonas, enquanto um é um instrumento musical de percussão em pele de ovelha, cuja origem é árabe, o outro são bonecas de trapos vestidas com um traje regional, com a peculiaridade de não terem olhos, bocas, nariz ou ouvidos. Nas festas de Nossa Senhora do Castelo ou das Cruzes, as raparigas solteiras têm de transportarem estas bonecas, fazendo parte da tradição.
Marialva
Uma aldeia de pequenas dimensões teve uma praça militar de grande importância, na Idade Média, porém as suas raízes provêm do século VI a.C., aquando a tribo dos Aravos aqui habitou, sendo depois ocupada por Romanos, Suevos e Árabes. Em 1063, Fernando Magno, rei de Leão conquistou-a, convertendo-a para a cristandade, dando-lhe o nome de Malva e mais tarde ficou Marialva. Contudo, reza a lenda que D. Afonso II de Portugal doou esta terra a D. Maria Alva, sua apaixonada, surgindo assim o topónimo. As suas calçadas medievais são acompanhadas por paredes e portas góticas, que encaminham para um pequeno largo com um toque muito medieval. Já a sua igreja matriz apresenta um portal manuelino a Santiago, que remonta ao século XVI, em sua honra decorre a feira anual de Santiago.
Sortelha
Uma aldeia medieval, cujas pesquisas arqueológicas desvendaram diversas sepulturas antropomórficas, próxima da igreja matriz; juntamente com vestígios da ocupação romana que contam com desde a Porta Poente até ao chafariz da Azenha.
Conhecida a importância da defesa da linha do rio Côa, a fronteira foi mandada construir por D. Sancho II, juntamente com o castelo que visava a proteção do núcleo familiar e incrementar o interesse pela propriedade rústica, para interessar as populações minhotas, da região de Valença.
No ano de 1297, com o tratado de Alcanizes, esta linha fronteiriça avençou para nascente, e aos poucos o castelo foi perdendo a sua importância, porém recebeu obras de beneficiação por parte de D. Dinis, D. Fernando e D. Manuel I, que concedeu o novo foral e implementou o pelourinho atual. Em 1640, o castelo foi novamente requalificado devido às guerras decorridas na época da Restauração. Deixando ser sede de concelho, em 1855, este território passou a ser sede de freguesia, dependente da Comarca e Bispado da Guarda.
Trancoso
Com o seu ar medieval, Trancoso alberga os seus visitantes apresentando-lhes a melhor forma de o conhecer, iniciando pelas vielas acompanhadas por portões biselados e por paredes mísulas, sendo que as casas de duas portas denominadas judiarias são as que despertam o maior interesse. Conhecido que judeus povoaram esta vila, estes transmitiram as suas vivências e tradições.
Acredita-se que numa destas casas, que pertencem à parte velha da vila, nasceu o misterioso Bandarra, sapateiro e profeta, é atualmente citado pelo povo como homem que profetizou a perda da liberdade, guerras e a restauração da Independência.
Sem questões, que a própria história desta vila encontra-se interligada à de Portugal, esta encontra-se próxima da fronteira que albergou diversas lutas e acontecimentos importantes, nomeadamente a batalha de São Marcos, que decorreu em 1355, sendo celebrada no dia 25 de abril.
Em 1282, rei D. Dinis celebrou seu casamente com a rainha Santa Isabel, na ermida de São Bartomoleu, também tendo sido esta terra a fortaleza que agregou a mais firma aliança luso-britânica, tendo cinco das Doze de Inglaterra o seu solar em Trancoso.